Japão volta à elite com virada de personalidade em Bangkok
Quinze anos depois, o Japão voltou a uma semifinal de Mundial feminino. E a vaga veio com drama: vitória por 3 a 2 sobre a Holanda (20-25, 25-20, 22-25, 25-12, 15-12), no dia 4 de setembro, em Bangkok, pela edição realizada na Tailândia entre 22 de agosto e 7 de setembro. A equipe asiática esteve duas vezes atrás no placar e ainda viu as holandesas abrirem três pontos no tie-break. Resistiu, virou e selou o resultado com uma cravada da capitã Mayu Ishikawa.
O roteiro teve todos os ingredientes. A Holanda largou melhor, explorando o bloqueio e impondo ritmo no saque. O Japão empatou ajustando a recepção e acelerando as bolas pelas pontas. No terceiro set, novo baque japonês. No quarto, a resposta mais contundente do jogo: 25-12, com pressão de saque e transição eficiente. No set decisivo, as europeias chegaram a 3 pontos de frente, mas a frieza japonesa no side-out e a bola de segurança em Ishikawa mudaram o clima da partida de vez.
Os números ajudam a explicar a virada. O Japão fez 75 pontos em ataques contra 61 da Holanda — superioridade clara no volume ofensivo. Em contrapartida, as holandesas dominaram o bloqueio (11 a 3), travando várias tentativas no início. A diferença no fim veio da constância japonesa no passe e da velocidade para quebrar a leitura do bloqueio adversário.
Yukiko Wada foi o motor da reação, com 27 pontos e 4 aces. Mayu Ishikawa apareceu nos momentos mais pesados, somando 25 pontos, com 2 bloqueios e 1 ace, além da bola que encerrou o duelo. Yoshino Sato contribuiu com 13 pontos, e Airi Miyabe adicionou 10. Do outro lado, a Holanda sustentou a disputa no paredão e em séries longas de side-out, mas faltou contundência quando o Japão apertou o saque no quarto set.
O quarto set, aliás, foi o ponto de virada emocional. Com uma sequência de saques forçados, o Japão desmontou o passe adversário e abriu uma vantagem de dois dígitos. O efeito foi imediato no tie-break: mesmo saindo atrás, a equipe manteve a paciência nas trocas e evitou erros não forçados. Quando precisou, acelerou pelo meio para atrair o bloqueio e liberar espaço nas extremidades.
O peso histórico é grande. A seleção japonesa não alcançava a semifinal desde 2010, quando levou o bronze jogando em casa. A jornada na Tailândia recolocou o país entre os protagonistas do Mundial de Vôlei 2025 e recompensou um ciclo que apostou em velocidade, disciplina tática e um elenco capaz de dividir o protagonismo sem perder a hierarquia nos momentos decisivos.
O adversário da semi foi a Turquia, que superou os Estados Unidos nas quartas. Na reta final do torneio, a Turquia acabaria campeã, a Itália terminaria com a prata e o Brasil ficaria com o bronze, deixando o Japão em quarto após a disputa do terceiro lugar. Mesmo sem medalha no fim, a campanha japonesa entregou algo raro: consistência sob pressão e uma vitória mata-mata que muda a régua das expectativas para os próximos torneios internacionais.
Para a Holanda, a eliminação dói porque o plano de jogo funcionou por longos trechos. O bloqueio foi eficiente, o saque incomodou, e o time abriu margens no tie-break. A diferença esteve na reta final de cada set apertado, quando o Japão executou melhor a primeira bola e atacou com mais precisão na saída de rede.
- Placar: Japão 3-2 Holanda (20-25, 25-20, 22-25, 25-12, 15-12)
- Pontos de ataque: Japão 75 x 61 Holanda
- Bloqueios: Holanda 11 x 3 Japão
- Destaques do Japão: Yukiko Wada (27 pontos, 4 aces); Mayu Ishikawa (25 pontos, 2 bloqueios, 1 ace); Yoshino Sato (13); Airi Miyabe (10)
- Local e data: Bangkok (Tailândia), 4 de setembro de 2025
- Chaveamento: Japão venceu a Holanda nas quartas e enfrentou a Turquia na semifinal
O tie-break contou a melhor versão do Japão. Trocas rápidas, paciência para rodar a bola mesmo contra um bloqueio alto e tomada de decisão limpa. Quando Ishikawa chamou o jogo para si, o sistema japonês deu o suporte necessário: passe posicionado, levantamentos mais ágeis e variação para não ficar previsível. A última bola, cravada pela camisa 6, fechou uma atuação que mistura maturidade e coragem.

O que fica da campanha e os próximos passos
Chegar à semifinal muda o patamar da seleção no cenário internacional. Além do ganho de confiança, a equipe valida um modelo de jogo que depende de intensidade do primeiro ao último ponto. Em Bangkok, o Japão mostrou que consegue corrigir rota durante o jogo — ajustando saque, cobertura e distribuição — sem perder o controle emocional.
Com o fim do torneio: Turquia campeã, Itália vice, Brasil terceiro e Japão quarto. No papel, falta a medalha. Na quadra, sobram sinais de evolução. A vitória de virada sobre a Holanda, com o time à beira do abismo em mais de uma ocasião, é o tipo de resultado que sustenta um ciclo inteiro.