Quando André Borges, diretor‑presidente do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) anunciou que a piracema 2025/26 começou nesta quarta‑feira, 1º de outubro, o clima nas cidades piscatórias de Juara e Vale do Arinos mudou de imediato. A medida, válida até 31 de janeiro de 2026, abrange as bacias dos rios Paraguai, Amazonas e Araguaia‑Tocantins em Mato Grosso, e traz um sistema reforçado de vigilância para garantir a migração reprodutiva das espécies nativas.
Contexto da piracema e sua importância
A piracema – migração anual de peixes rumo às nascentes – é crucial para a renovação dos estoques. Sem ela, espécies como o pacu, a pintado, a cachara e o jaú sofrem declínio, comprometendo a biodiversidade do Pantanal e a subsistência de milhares de pescadores. Historicamente, a proibição de pesca coincide com o pico desse movimento, mas nos últimos anos os sinais de migração foram observados já em novembro, o que gerou debates sobre antecipar as restrições.
Detalhes da nova temporada de defeso 2025/2026
- Início: 1 de outubro de 2025 (MT); 1 de novembro (MS – bacia do Paraná) e 5 de novembro (MS – bacia do Paraguai).
- Fim: 31 de janeiro de 2026 (MT); 28 de fevereiro de 2026 (MS).
- Espécies protegidas: pacu, pintado, cachara, curimba, dourado, jaú e piau.
- Áreas de fiscalização: 12 postos de monitoramento distribuídos entre os rios Cuiabá, Arinos, Jaurá e Paraguai.
- Penalidade para infrações: multa de R$ 2.500,00 a R$ 10.000,00 e apreensão de equipamentos.
O Simão Brun, diretor da Projeto Pacu Aquicultura, explicou que “a maioria das espécies prioritárias inicia a migração antes mesmo da data oficial, o que indica que o ecossistema ainda está respondendo a condições climáticas favoráveis”.
Reações de pescadores e comerciantes
Em Juara, o pescador Rogério Lima – que prefere ficar anônimo – contou que a mudança “poderá apertar o bolso no curto prazo, mas ele entende que sem a piracema os rios ficam vazios”. Já no Vale do Arinos, a associação comercial de pescadores organizou uma reunião de 30 pessoas para discutir alternativas de renda, como a criação de viveiros de alevinos, uma prática estimulada pelo programa estadual de apoio ao médio prazo.
Análise de especialistas: impactos na biodiversidade
Um estudo publicado pelo Instituto Brasileiro de Meio‑Ambiente (IBAMA) em julho apontou que, entre 2019 e 2024, a taxa de sobrevivência de juvenis de pacu aumentou 12 % nos trechos monitorados da bacia do Arinos, diretamente ligado à restrição de captura durante a piracema. O ecólogo Mariana Ferreira (Universidade Federal de Mato Grosso) acrescenta que “a continuidade da proibição, aliada a um monitoramento mais rigoroso, pode elevar esses números para perto de 20 % nos próximos cinco anos”.
Fiscalização e perspectivas futuras
As autoridades de Mato Grosso do Sul fecharam acordos com a Polícia Militar e o IBAMA para operar radares de áudio e drones sobre os principais trechos fluviais. André Borges salientou que a cooperação entre pescadores, comerciantes e órgãos ambientais “é a chave para que a piracema cumpra seu papel ecológico”. O próximo relatório de avaliação, previsto para março de 2026, medirá a eficácia das multas e o incremento dos estoques de peixe.

Frequently Asked Questions
Como a proibição afeta os pescadores de Juara?
Os pescadores terão que suspender a captura de espécies protegidas entre outubro e janeiro, o que pode reduzir a renda imediata. Contudo, programas de apoio estadual oferecem linhas de crédito para investimento em viveiros e equipamentos de pesca sustentável, buscando compensar a perda temporária.
Por que Mato Grosso adota datas diferentes de Mato Grosso do Sul?
As diferenças refletem as características hidrológicas distintas: a bacia do Paraguai em MT recebe chuvas mais cedo, iniciando a migração dos peixes antes da região sul, cujo pico ocorre mais tarde, em novembro.
Quais espécies são mais vulneráveis sem o período de defeso?
Especialistas apontam o pintado e o jaú como os mais sensíveis, pois dependem de correntes rápidas para desova. A interrupção da pesca permite que os adultos completem o ciclo reprodutivo sem pressão de captura.
Qual o papel da fiscalização tecnológica na nova temporada?
Drones equipados com câmeras térmicas e radares de áudio monitoram embarcações em áreas remotas, reduzindo a necessidade de patrulhas terrestres extensas e aumentando a taxa de captura de infrações.
O que esperar do relatório de 2026 sobre a piracema?
O relatório deve analisar a recuperação dos estoques, a eficácia das multas e a adesão dos pescadores, oferecendo subsídios para reajustes nas próximas temporadas e possíveis extensões de áreas protegidas.
Comentários (2)
Fábio Santos
Desde que as autoridades anunciaram a nova defesa da piracema, parece que há algo mais obscuro acontecendo nos bastidores 🕵️♂️.
O calendário divergente entre MT e MS não foi apenas uma escolha técnica, mas um sinal de que grupos poderosos estão manipulando o fluxo dos peixes para benefício próprio 💰.
A implantação de drones e radares de áudio, embora anunciada como ferramenta de preservação, pode servir como pretexto para ampliar a vigilância estatal sobre comunidades rurais.
Historicamente, grandes projetos de infraestrutura utilizam “proteção ambiental” como fachada para legitimar desapropriações e concessões de terra.
Não é coincidência que a mesma data de início da piracema coincida com a assinatura de novos contratos de mineração na região do Arinos.
Além disso, o aumento das multas de até R$ 10.000,00 pode ser interpretado como um mecanismo de arrecadação para fundos que nunca são auditados publicamente.
Muitas vezes, as penalidades são aplicadas de maneira desproporcional, mirando pescadores independentes enquanto grandes embarcações escapam ilesas.
A presença de 12 postos de monitoramento parece mais um exército de controle do que uma rede de proteção ambiental.
Se considerarmos que as espécies priorizadas já iniciam migração antes da data oficial, a rigidez do calendário revela uma estratégia de imposição ao invés de ciência.
A comunidade de pescadores de Juara, que historicamente depende da pesca para subsistência, agora se vê encurralada por burocracias que pouco entendem de ecologia.
Enquanto isso, agências federais recebem verbas internacionais para projetos de “conservação sustentável”, mas esses recursos raramente chegam aos projetos locais.
O fato de que o IBAMA e a Polícia Militar trabalham em conjunto indica uma coordenação que vai além da simples fiscalização de peixes.
Os drones equipados com câmeras térmicas podem mapear áreas de cultivo ilícito e, assim, servir a interesses agronegócio que buscam expandir fronteiras.
Em resumo, a piracema de 2025/26 parece ser usada como um tabuleiro ao lado de um jogo de poder muito maior, onde a natureza é apenas uma peça.
Portanto, ao apoiar a medida, é preciso questionar quem realmente se beneficia e quais são os custos ocultos para quem vive das águas.
Camila Mayorga
É curioso como o fluxo dos peixes reflete o fluxo dos nossos pensamentos, navegando entre liberdade e restrição 😊.
Quando a água se cala, nossas almas também sentem o peso da imposição.
Mas a esperança sempre brota nas margens, como um novo nascer de luz.