Brasil abre série em Atenas com João Fonseca em foco
Pressão de estreia, torcida grega em peso e um palco grande: assim começou a campanha do Brasil na Copa Davis diante da Grécia, em Atenas, no complexo O.A.K.A., entre 12 e 14 de setembro de 2025. João Fonseca, a principal aposta da nova geração brasileira, foi o responsável por abrir a série, encarando o grego Stefanos Sakellaridis no primeiro jogo do confronto do World Group I.
O duelo foi duro desde os primeiros pontos. Fonseca encaixou 3 aces contra 2 do rival, mas oscilou no saque em momentos-chave, com 4 duplas faltas, enquanto Sakellaridis cometeu 2. O percentual de primeiro serviço, que costuma ditar o ritmo e o controle dos pontos em jogos de piso rápido, pesou no andamento da partida. Quando Fonseca colocou o primeiro saque, conseguiu comandar os ralis com o forehand; quando a primeira bola não entrou, o grego ganhou espaço para atacar a segunda bola e tentar a quebra.
Para além do placar da abertura, o contexto da série aumenta o peso de cada detalhe. O formato da Davis no World Group I é curto e tenso: cinco partidas em três dias — dois singles na sexta, duplas no sábado e os dois reverse singles no domingo. Quem chegar a três vitórias primeiro fecha a série. É por isso que o domingo promete: se o confronto seguir equilibrado, Fonseca pode voltar à quadra para encarar o número 1 grego, Stefanos Tsitsipas, em um jogo com cara de decisão.
Para João, é uma chance simbólica. Aos 18 anos, ex-número 1 juvenil e campeão do US Open júnior em 2023, ele vem acelerando a transição para o circuito profissional, ganhando corpo físico e rodagem em chaves ATP e Challenger. A designação para abrir a série, fora de casa, mostra a confiança da comissão técnica e a leitura de que ele já consegue lidar com ambientes hostis e partidas de peso.
Do outro lado, a Grécia conta com a referência de Tsitsipas — titular habitual e favorito nos jogos de simples — e com uma base jovem e agressiva, caso de Sakellaridis. Em casa, os gregos costumam montar um time de duplas competitivo, muitas vezes com a presença do irmão Petros ao lado de um parceiro regular do circuito. Esse desenho pede atenção do Brasil para o sábado, quando o ponto da dupla pode mudar a maré do confronto.
Em quadros assim, detalhes técnicos viram história. Para Fonseca, algumas chaves são claras: proteger o saque nos primeiros games de cada set, variar a direção do primeiro serviço para abrir a quadra, e manter o forehand pressionando a linha de base rival. Na devolução, a leitura do toss e o bloqueio na segunda bola ajudam a encurtar pontos e a criar janelas para a quebra. Tudo isso com um ingrediente extra: paciência para atravessar os games longos, comuns em confrontos com ambiente ruidoso.

O que está em jogo e como o Brasil pode vencer
Vencer a Grécia em Atenas vale mais do que ranking. O time que leva a melhor no World Group I avança aos Qualifiers da temporada seguinte — a porta de entrada para as Finais da Davis. Quem perde precisa encarar os play-offs. É o tipo de série que muda o planejamento de um ano inteiro: calendário, convocações e até o tipo de quadra preferida para receber confrontos em casa.
Como está montada a semana? Simples, mas sem margem para tropeço:
- Sexta-feira: dois jogos de simples. Ritmo, leitura de quadra e a primeira fotografia do confronto.
- Sábado: jogo de duplas. Muitas vezes é o ponto que vira a série, porque equilibra moral e exige entrosamento real.
- Domingo: os reverse singles. Em regra, os número 1 se enfrentam no primeiro jogo do dia. A depender do placar, o quinto jogo vira final.
Se a série seguir viva até domingo, o cenário provável colocará Fonseca diante de Tsitsipas. O grego tem experiência em jogos grandes e costuma acelerar com o forehand cruzado e a direita na paralela para fechar a rede quando pode. Para travar esse ímpeto, o brasileiro precisa segurar a profundidade na devolução e tentar alongar as trocas no backhand de Tsitsipas, onde a variação com slice e altura pode quebrar o ritmo do favorito.
Outro ponto: a gestão emocional. Série fora de casa tem momentos de ruído, revisão de bola, pressão por parte do público e da própria equipe. Jogadores jovens oscilam, mas também surpreendem quando conseguem impor a energia certa. Fonseca tem esse perfil combativo, que contagia o banco e cria a sensação de que cada game é jogável, mesmo quando o placar pesa.
No sábado, a dupla pode virar a chave para o Brasil. O país tem tradição e uma base de especialistas que circula bem no circuito. A dinâmica é diferente dos simples: mais devoluções bloqueadas, mais jogos decididos no detalhe do primeiro voleio e leitura de formação australiana ou I-formation. Quem for a quadra pelo Brasil precisa sacar com alta porcentagem e fechar a rede sem hesitar, porque a Grécia costuma se apoiar na energia da torcida para acelerar as devoluções.
Há ainda o fator físico. Três dias seguidos, possíveis cinco sets somados entre partidas, e viagens curtas dentro do evento exigem rotina de recuperação muito fina — gelo, alimentação, alongamento, sono. Para um jovem como Fonseca, que ainda está acumulando minutos de quadra em alto nível, saber dosar explosão e respiração nas trocas longas faz diferença no domingo.
A Federação Internacional de Tênis colocou o confronto no seu calendário como parte do pacote de eventos por equipes da temporada, com estatísticas e highlights oficiais disponíveis após cada partida. É um detalhe que mostra a vitrine dessa semana: quem joga bem, aparece; quem ganha ponto pesado, vira recorte de vídeo e entra no radar do circuito.
Para o torcedor brasileiro, o roteiro é claro: a série em Atenas é oportunidade de ouro para uma transição geracional com resultados. Fonseca virou símbolo desse movimento, mas ele não joga sozinho — comissão técnica, staff de fisioterapia, analistas e o elenco todo contam. Se o Brasil sair com a vaga aos Qualifiers, além do resultado, fica a mensagem de que a nova safra aguenta o tranco fora de casa e está pronta para encarar jogos grandes quando eles aparecem.
Domingo pode reservar a cena que o fã gosta: o jovem brasileiro encarando o líder grego em um jogo que vale a série. Se chegar a esse ponto, a equação volta ao básico: primeiro saque, devolução firme, cabeça fria. O resto, a quadra resolve.