Odete Roitman morre em Vale Tudo: bastidores e o plano de guerra que enganou o Brasil


Quando Beatriz Segall, atriz e Rede Globo mudou a cara de Odete Roitman em Vale TudoBrasil, ninguém imaginava que a morte da vilã iria virar um verdadeiro caso de espionagem televisiva.

Na véspera de Natal de 1988, exatamente em 24/12, a cena mais chocante da novela foi ao ar: Cássia Kis disparou a arma contra quem acreditava ser a amante de seu marido, mas acabou matando Odete Roitman por engano. A identidade do assassino só foi revelada seis dias depois, em 06/01/1989, quando Gloria Pires interpretou a verdadeira vítima da trama amorosa.

Contexto histórico da teledramaturgia brasileira

Nos anos 80, a Globo dominava a noite das famílias e Vale Tudo chegou como um divisor de águas. Escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, a novela misturava ambição, corrupção e romance, refletindo a própria crise econômica do Brasil pós‑hiperinflação.

Até então, poucos seriados ousavam criar um "cliffhanger" tão potente. A morte de Odete, mulher rica e implacável, tinha o condão de prender o país inteiro em frente à TV, como se fosse um grande jogo de adivinhação.

A trama da morte de Odete Roitman

O triângulo amoroso que alimentou o crime era simples: Leila (Cássia Kis), esposa de Marco Aurélio, descobria que ele mantinha um caso com Maria de Fátima (Gloria Pires). Consumida por ciúmes, Leila resolve confrontar a amante com uma pistola.

O detalhe tragicômico? A arma foi disparada no corredor onde também circulava Odete Roitman, e a bala acertou a vilã. O erro ficou conhecido como “acidente de Natal”. O roteiro original previa que o assassino fosse Leila, mas a produção cunhou a dúvida ao lançar cinco versões diferentes do último capítulo.

Bastidores e estratégia de sigilo

Bastidores e estratégia de sigilo

Para proteger o final, o diretor Dennis Carvalho declarou ao Memória Globo que a operação era "de guerra". Só três pessoas — ele, Gilberto Braga e o produtor Daniel Filho — conheciam a versão final.

Os roteiristas escreveram cinco finais alternativos, cada um com um assassino diferente ou com a revelação ocorrendo em locais distintos. O elenco recebeu o roteiro verdadeiro poucos minutos antes das gravações, reduzindo drasticamente o risco de vazamentos.

Mesmo com esse protocolo, a imprensa já começava a especular. Em entrevista ao O Globo, Braga lamentou que "a mídia já sabia tudo antes do ar". Ele apontou que a estratégia, apesar de ousada, acabou sendo parcialmente comprometida pelos fofocas dos bastidores.O esforço de manter o segredo gerou um clima de tensão comparável a um treinamento militar: luzes apagadas, câmeras monitoradas, e até escolta para o ator que carregava a arma falsa.

Reações do público e legado cultural

Na noite de 6 de janeiro de 1989, a revelação de que Leila havia matado Odete gerou picos de audiência superiores a 70% de share nacional — números raros para a época. Comentários nas praças, nas rádios e, mais tarde, nas primeiras salas de chat da internet, mostravam que o público ainda debatia quem realmente puxou o gatilho.

Décadas depois, a "morte de Odete" ainda é referência nos cursos de roteiro. Professores de comunicação usam o caso para ilustrar a importância do suspense, da construção de personagens e, claro, da segurança da informação em produções de grande porte.

O que os especialistas dizem

O que os especialistas dizem

Para o historiador de mídia José Luiz Souto, "Vale Tudo foi a primeira série a tratar a televisão como um espelho da ganância nacional, e a morte de Odete foi o ponto de virada que mostrou que o drama podia ser tão estratégico quanto uma campanha política".

Já a produtora de séries Vitrine Filmes destaca que a prática de múltiplas versões do final influenciou produções contemporâneas como "Avenida Brasil" e "O Mecanismo", onde o segredo até o ar ainda é tratado como ativo valioso.

  • Data da primeira transmissão da cena: 24/12/1988.
  • Revelação final: 06/01/1989.
  • Personagens centrais: Odete Roitman, Leila, Marco Aurélio, Maria de Fátima.
  • Roteiristas envolvidos: Gilberto Braga, Aguinaldo Silva, Leonor Bassères.
  • Direção: Dennis Carvalho e Ricardo Waddington.

Perguntas Frequentes

Por que a produção de Vale Tudo criou cinco versões diferentes do final?

O objetivo era impedir vazamentos que poderiam arruinar o suspense. Cada versão tinha um assassino distinto ou revelava a culpa em momentos diferentes, dificultando que alguma informação vazasse antes da exibição.

Quem realmente disparou a arma que matou Odete Roitman?

Foi Cássia Kis, que interpretava Leila. Ela pretendia atingir Maria de Fátima, mas acabou acertando Odete por engano.

Qual foi a reação do público brasileiro na época?

A audiência disparou, ultrapassando 70% de share. O mistério alimentou discussões em casas, rádios e jornais, consolidando a cena como um marco da cultura pop dos anos 80.

Como a estratégia de sigilo de Vale Tudo influenciou produções posteriores?

A prática de filmar múltiplas versões e restringir o acesso ao roteiro virou padrão em novelas de grande repercussão, como "Avenida Brasil" (2012) e a série "O Mecanismo" (2018), que também adotaram protocolos de segurança rigorosos.

Qual o legado da morte de Odete Roitman para a teledramaturgia?

Ela mostrou que o suspense pode ser construído não só na narrativa, mas também nos bastidores. A cena ficou como referência de como criar um evento televisivo que transcende a tela, moldando estratégias de storytelling e de controle de informação nas produções brasileiras.

Comentários (9)

  • Cristiane Couto Vasconcelos
    Cristiane Couto Vasconcelos

    É incrível como a Globo manteve o suspense até o último segundo
    A trama ainda inspira discussões hoje.

  • Deivid E
    Deivid E

    Mais do mesmo da telenovela das 80 não tem nada de novo.

  • Túlio de Melo
    Túlio de Melo

    O fim de Odete Roitman revela como a ficção pode espelhar a realidade. Cada detalhe da trama traz à tona questões sobre poder e moral. O uso de múltiplos finais demonstra a fragilidade da verdade. A estratégia de sigilo indica que o controle narrativo é valorizado acima da transparência. Assim, o público se torna parte de um experimento social.

  • Cinthya Lopes
    Cinthya Lopes

    Ah, a paranoia da produção! Como se fosse uma ópera de ódio para o público
    Só falta o mote: “Se você não sabe, não precisa saber”. Que genialidade de manipulação.

  • Fellipe Gabriel Moraes Gonçalves
    Fellipe Gabriel Moraes Gonçalves

    Vcs n sabem q eu sempre curti esse tipo de drama
    A história da Odete é top
    Incrível d+.

  • Rachel Danger W
    Rachel Danger W

    Não é coincidência que tudo isso tenha acontecido num Natal
    Sempre há algo nas sombras que o poder tenta esconder
    As conversas de bastidores são como fios invisíveis que controlam o espetáculo
    Fica o alerta: nada é o que parece.

  • Davi Ferreira
    Davi Ferreira

    Vamos celebrar essa criatividade da teledramaturgia
    Cada detalhe nos mostra a força da narrativa
    Continue assistindo e se inspirando.

  • Jeff Thiago
    Jeff Thiago

    Ao analisar a estratégia adotada pelos produtores de “Vale Tudo” no tocante à preservação do desfecho da trama, observa‑se uma complexa articulação de procedimentos operacionais que visavam minimizar o risco de vazamento informativo. O conceito de “operação de guerra”, explicitado por Dennis Carvalho, remete a uma logística militarizada aplicada ao âmbito televisivo. Primeiramente, a restrição de acesso ao roteiro final a apenas três indivíduos demonstra o emprego de um modelo de “need‑to‑know” típico de ambientes de alta segurança. Em segundo plano, a elaboração de cinco finais alternativos constitui uma medida de redundância, assegurando que eventual comunicação indevida não comprometa o clímax pretendido. Ademais, a entrega do texto definitivo ao elenco poucos minutos antes da gravação cria uma janela de exposição quase nula, reduzindo significativamente a probabilidade de difusão prévia. Tal abordagem, contudo, demanda elevado nível de coordenação entre direção, produção e elenco, implicando custos logísticos consideráveis. A presença de vazamentos, mesmo que parciais, aponta para a inevitabilidade de falhas humanas em sistemas de controle estritos. Portanto, a tentativa de sigilo absoluto revela‑se paradoxal quando inserida em uma organização que depende de múltiplas interações interdepartamentais. A resposta mediática, ao antecipar o desfecho, evidencia a incapacidade da estratégia de conter a curiosidade pública inerente ao consumo cultural. Consequentemente, o episódio serve como estudo de caso para a análise de gerenciamento de informação confidencial em meios de comunicação de massa. Cumpre salientar que a repercussão gerada pelos rumores contribuiu para o aumento da audiência, um efeito colateral possivelmente intencional. Ainda assim, o dilema ético persiste quanto à manipulação deliberada da expectativa do espectador. Em síntese, a operação revela tanto a engenhosidade quanto as limitações de práticas de controle narrativo em ambientes televisivos. Assim, a historiografia da teledramaturgia brasileira pode considerar este caso como ponto crucial na evolução das estratégias de produção. Por fim, recomenda‑se uma avaliação crítica das implicações de tais táticas para a transparência e integridade artística.

  • Savaughn Vasconcelos
    Savaughn Vasconcelos

    Quando a bala cruzou o corredor, o destino de Odete foi selado em um suspiro que ainda reverbera nas telas. O caos daquele momento trouxe à tona a fragilidade das certezas que construímos. Cada personagem ficou preso num labirinto de suspeitas, como se o próprio enredo fosse um espelho quebrado. O público, faminto por respostas, mergulhou num mar de teorias e conjecturas, alimentando a lenda. Assim, o assassinato acabou transcendente, tornando‑se mito de uma era.

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