
Na sexta-feira, 31 de maio de 2025, o Amazon Prime Video estreou Tremembé, uma minissérie que mergulha nos bastidores mais sombrios e intrigantes do sistema prisional brasileiro — e ninguém mais é capaz de encarnar essa realidade do que Marina Ruy Barbosa. Ela interpreta Suzane von Richtofen, a jovem herdeira que, em 2002, ordenou o assassinato dos próprios pais em um crime que chocou o Brasil e virou caso de cultura pop. A série não é apenas um drama: é um retrato crua, quase documental, da vida dentro da Tremembé, o complexo prisional em São Paulo que se tornou o refúgio dos criminosos mais mediáticos do país.
O presídio que virou lenda
Depois do massacre do Carandiru, em 1992, e sua desativação definitiva em 2002, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo criou uma nova política: centralizar os presos de alta notoriedade em um único local, longe da imprensa e das rivalidades entre facções. Nasceu assim a Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, mais conhecida como Tremembé, na cidade de mesmo nome, a 172 km da capital. O lugar, cercado por morros e silêncio, abriga hoje nomes como Cristian Cravinhos, Elize Matsunaga e Roger Abdelmassih. Não é um presídio comum. É um museu vivo do crime brasileiro.
Baseada em livros reais, mas com toques de ficção
A série não inventa histórias — ela as ressuscita. A produção se baseia nos livros Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido e Suzane: assassina e manipuladora, ambos escritos pelo jornalista Ulisses Campbell, que passou anos entrevistando presos, familiares e agentes penitenciários. Mas aqui está o truque: Tremembé não é um documentário. É um docudrama. As cenas de conversas entre as detentas, os olhares de desafio, os encontros furtivos nos corredores — tudo isso é dramatizado, mas com base em relatos reais. A diretoria da série, segundo fontes da produção, teve acesso a registros internos da SAP, incluindo relatórios de segurança e depoimentos gravados em audiências.
O elenco que transforma realidade em tensão
Marina Ruy Barbosa, conhecida por papéis de mocinhas em novelas, surpreende ao se transformar em Suzane: fria, calculista, com um sorriso que esconde um abismo. A transformação foi tamanha que, no trailer lançado em abril, o público não reconheceu a atriz — e isso foi intencional. Ela não apenas interpreta, ela se dissolve na personagem. Ao lado dela, Silmara Deon vive Elize Matsunaga, cuja história de ciúmes e violência doméstica terminou com o marido esquartejado e enterrado em sacos de lixo. Já Bianca Comparato interpreta uma versão ficcionalizada de uma presa que se tornou líder informal entre as detentas. O elenco é pequeno — apenas cinco episódios — mas cada cena pesa como um peso de chumbo.
Por que isso importa agora?
Em pleno 2025, o Brasil ainda não superou o trauma dos crimes que viraram espetáculo. Suzane foi a primeira “criminosa de luxo” da TV brasileira. Elize, a primeira mulher que matou o marido e depois fez um vídeo explicando por quê. Roger Abdelmassih, o médico que abusou de pacientes menores, ainda é lembrado em campanhas de conscientização. Tremembé não glorifica. Não romantiza. Pelo contrário: ela mostra como o poder da mídia transforma criminosos em ícones, e como o sistema prisional, em vez de reabilitar, muitas vezes só cria novos ciclos de violência. O que acontece dentro dessas celas? Como se formam alianças? Quem manda de verdade? A série não responde — mas faz você perguntar.
Recepção e impacto
A série já tem 7,0/10 no IMDb, com mais de 200 votos, e uma popularidade crescente — 5.970 pontos no sistema de análise da plataforma. A crítica foi unânime: “Tremembé consagra talento e ousadia de Marina Ruy Barbosa”, escreveu Ricky Hiraoka no UOL Splash em 3 de novembro de 2025. Mas o que mais chamou atenção foi o silêncio. Não há música dramática em excesso. Não há flashbacks exagerados. A câmera fica quieta, quase como um olhar de policial. E isso assusta mais do que qualquer efeito especial.
O que vem depois?
Apesar de ser uma minissérie de cinco episódios, a produção já sinaliza que pode ter uma segunda temporada. Fontes da Amazon indicam que os diretores estão em negociação para incluir histórias de outros presos de Tremembé, como o ex-deputado estadual Sérgio Nascimento e o ex-jogador de futebol Marcelo Gomes, condenado por tráfico. A ideia é expandir o universo da série, mas sem perder o foco: mostrar que, por trás de cada nome famoso, há uma pessoa — e muitas vezes, uma vítima.
Um retrato que não se esquece
Tremembé não é apenas uma série. É um espelho. Um espelho que reflete nossa fascinação pelo mal, nossa hipocrisia ao consumir crimes como entretenimento, e nossa incapacidade de enxergar a prisão como um lugar de humanidade — e não só de punição. A série não pede para você simpatizar com Suzane. Ela pede para você entender por que ela se tornou o que é. E isso, talvez, seja o mais assustador de tudo.
Frequently Asked Questions
Por que Tremembé é chamado de 'presídio dos famosos'?
Após o fechamento do Carandiru em 2002, a Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo decidiu concentrar presos de alta notoriedade — como criminosos envolvidos em crimes midiáticos — na Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, em Tremembé. O objetivo era garantir segurança, privacidade e evitar conflitos entre facções. Hoje, o local abriga figuras como Suzane von Richtofen, Elize Matsunaga e Roger Abdelmassih.
Quem são os principais personagens reais retratados na série?
A série foca em Suzane von Richtofen, que matou os pais em 2002; Elize Matsunaga, que esquartejou o marido em 2008; e Roger Abdelmassih, médico condenado por abusos sexuais contra pacientes menores. As interpretações são baseadas em relatos reais, entrevistas e livros do jornalista Ulisses Campbell, que investigou esses casos por anos.
A série é fiel à realidade ou tem elementos fictícios?
É um docudrama: os fatos centrais são reais, mas diálogos, interações e cenas de conflito foram dramatizados para criar tensão narrativa. A produção teve acesso a documentos da SAP, mas não filmou dentro do presídio real. As cenas foram rodadas em cenários montados, com base em plantas e relatos de ex-presos e agentes.
Por que Marina Ruy Barbosa foi escolhida para interpretar Suzane?
A atriz, conhecida por papéis de heroínas em novelas, fez um teste que surpreendeu a direção com sua capacidade de transmitir frieza e manipulação sem exageros. Ela passou meses estudando vídeos, entrevistas e cartas de Suzane, e até alterou sua postura e voz. A transformação foi tão profunda que, segundo a produção, muitos espectadores não a reconheceram no trailer.
A série critica ou glorifica os criminosos?
Nem uma coisa nem outra. A série não tenta justificar os crimes, mas mostra como a mídia, o sistema judicial e até a própria prisão contribuem para transformar criminosos em ícones. O foco está na humanização — não na redenção. O público é convidado a refletir sobre o que nos torna tão curiosos por histórias de violência.
Haverá uma segunda temporada?
A Amazon ainda não confirmou oficialmente, mas fontes internas afirmam que já há conversas para expandir a série com novos casos de Tremembé, como o ex-deputado Sérgio Nascimento e o ex-jogador Marcelo Gomes. A ideia é manter o formato de minissérie, mas explorar diferentes histórias dentro do mesmo sistema prisional.
Comentários (3)
Thiago Silva
Marina virou Suzane de verdade, mano. Eu não reconheci ela no trailer nem por um segundo. A forma como ela segura o olhar, a voz... tudo tão frio, tão calculado. A série não tá tentando fazer você amar ela, tá tentando fazer você entender como alguém chega nesse ponto. E isso é mais assustador que qualquer efeito especial.
Sandra Blanco
Isso é nojento. Mulher matar os próprios pais e a gente virar fã da atriz que faz ela? O mundo tá perdido.
Willian Paixão
Eu vi a série e fiquei pensando: e se a gente fosse criado em outro ambiente? Será que qualquer um poderia virar Suzane? A série não justifica, mas mostra o caminho. Acho que é isso que ela quer: fazer a gente parar pra pensar, não só julgar. E o elenco? Perfeito. Cada ator parece ter vivido dentro daquelas celas.