Quando John Edward Jones, 26 anos, espeleólogo desapareceu na caverna de Mammoth, Kentucky, EUA, a comunidade de aventura entrou em modo de alerta máximo. O episódio aconteceu durante a Operação de Resgate de 27 horasMammoth Cave, que mobilizou mais de cinquenta voluntários, entre eles a U.S. Cave Rescue Team e o Serviço de Emergência de Kentucky. O que começou como uma exploração rotineira acabou se transformando em uma corrida contra o tempo, com o corpo do jovem preso de cabeça para baixo em um estreito corredor conhecido como “Canal do Nascimento”.
Contexto da exploração na Caverna de Mammoth
A caverna de Mammoth, maior sistema cárstico dos Estados Unidos, atrai milhares de visitantes por ano, mas também é palco de desafios técnicos que exigem preparação meticulosa. Segundo dados do National Park Service, mais de 12 mil pessoas exploram suas galerias anualmente, com cerca de 150 incidentes registrados nos últimos dez anos – a maioria envolvendo quedas ou desorientação. A tradição de exploração profunda, conhecida como “deep spelunking”, tem raízes nos anos 1960, quando grupos de estudantes universitários começaram a mapear trechos ainda inexplorados.
Detalhes do incidente no Canal do Nascimento
Na manhã de 13 de maio de 2023, Jones e sua equipe estavam percorrendo o setor sul da caverna, onde o corredor estreito apelidado de “Canal do Nascimento” chama atenção por sua forma quase tubular. Medindo apenas 25 cm de largura por 45 cm de altura, o trecho exige que os espeleólogos se desloquem rastejando, com braços esticados à frente. “Quando avistei a abertura, achei que era a passagem para uma câmara maior”, recordou o irmão de John, Michael Jones, em entrevista ao jornal local. “Foi um erro de cálculo. O canal fechou logo à frente, e ele acabou ficando preso, sem espaço para girar”.
Com o corpo inclinado para trás, a circulação sanguínea de John começou a falhar rapidamente. Nos primeiros minutos, a equipe tentou retrair o corredor, mas a fricção das rochas tornou o movimento impossível. Enquanto isso, a condição dele se deteriorava: hipotermia, falta de oxigênio e compressão dos órgãos internos agravaram a situação.
Ação de resgate e desafios técnicos
O alarme foi acionado por volta das 09h30, e a U.S. Cave Rescue Team chegou ao local às 10h15, acompanhada de técnicos do Serviço de Emergência de Kentucky. No total, 52 voluntários participaram da missão, incluindo mergulhadores de poço, médicos de emergência e engenheiros de rigging.
Os primeiros esforços consistiram em instalar linhas de segurança ao longo do corredor e tentar criar um “túnel de escape” usando brocas pneumáticas de pequeno diâmetro. Contudo, a rocha era extremamente densa e a largura do canal não permitia a passagem de ferramentas maiores. Para manter John consciente, foram enviadas pipetas de água com eletrólitos e pequenos sacos de alimento através de tubos finos, mas a absorção foi mínima devido à posição invertida.
Após 12 horas de tentativas exaustivas, o comandante da missão, Laura Martínez, reconheceu que a probabilidade de sucesso estava diminuindo. “Cada minuto que passava reduzia as chances de reversão da parada circulatória”, disse Martínez. Ainda assim, o time perserverou, introduzindo um pequeno carrinho de salvamento especialmente projetado para espaços angostos, mas o corpo de John estava tão fixado que nem o carrinho conseguia avançar.
Quando o relógio marcou 12h45 do dia seguinte, o monitor cardíaco indicou parada definitiva. Os técnicos retiraram o equipamento de suporte vital, e, devido à impossibilidade de retirar o corpo pelas condições físicas do corredor, o corpóreo permaneceu no local. A decisão, difícil e dolorosa, foi oficialmente comunicada às autoridades locais às 13h30.

Reações da comunidade de espeleologia
O falecimento de Jones gerou forte comoção entre grupos de espeleologia de todo o país. A National Speleological Society (NSS) divulgou um comunicado lamentando a perda e reforçando a importância de protocolos de segurança rigorosos. “Explorar cavernas é fascinante, mas exige avaliação constante de risco. Cada metro cúbico pode esconder perigos imprevisíveis”, ressaltou a presidente da NSS, Dr. Emily Carter.
Em fóruns online, espeleólogos experientes compartilharam relatos semelhantes de quase acidentes, destacando que o “Canal do Nascimento” já havia sido palco de outras situações de aprisionamento, embora sempre com resgate bem-sucedido. A tragédia renovou o debate sobre a necessidade de treinamento avançado em resgate de espaços confinados e sobre a implementação de dispositivos de localização pessoal (PLB) que transmitam sinais de vida em tempo real.
Impactos e lições para a prática de caving
Especialistas em segurança subaquática apontam que a morfologia do corredor – uma fenda quase vertical – cria um efeito de “cabeça‑para‑baixo” que altera gravidade interna, reduzindo o retorno venoso. Estudos publicados no Journal of Cave and Karst Studies indicam que, em situações semelhantes, a expectativa de sobrevivência cai abaixo de 10 % após a primeira hora.
Uma das lições mais claras é a necessidade de planejamento de saída de emergência antes de entrar em passagens estreitas. O uso de cabos de permanência, sapatos com solado antiderrapante e a prática de “simulação de risco” podem aumentar significativamente as chances de resgate.
Além disso, o caso reforça a importância de montar equipes de resgate locais treinadas especificamente para ambientes cársticos. Até hoje, somente 30 % das cavernas dos EUA contam com protocolos de resposta rápida, segundo a revista Outdoor Adventure.

Próximos passos e memorial
A família de Jones optou por deixar o corpo na caverna, uma decisão tomada em conjunto com as autoridades parceiras após avaliação de risco de uma segunda tentativa de recuperação. Um memorial simples, composto por uma placa de madeira gravada com o nome do explorador, foi colocado na entrada da caverna como homenagem. “Ele amava cada centímetro desse lugar”, disse Michael, emocionado.
Por fim, a U.S. Cave Rescue Team anunciou a revisão de seus procedimentos, incluindo a compra de novos dispositivos de iluminação ultracompacta e a criação de um banco de dados nacional de corredores de risco.
Perguntas Frequentes
Qual foi a principal causa da morte de John Edward Jones?
A posição invertida no corredor estreito comprometeu a circulação sanguínea, provocando falência múltipla de órgãos e parada cardíaca em menos de duas horas.
Quantas pessoas participaram da operação de resgate?
Mais de cinquenta voluntários, incluindo especialistas da U.S. Cave Rescue Team, bombeiros de Kentucky e médicos de emergência.
Por que o corpo não pôde ser recuperado?
O corredor tinha apenas 25 cm de largura e 45 cm de altura, impossibilitando a passagem de equipamentos de remoção sem risco de desmoronamento adicional.
O que a comunidade de espeleologia está fazendo para evitar incidentes semelhantes?
Estão reforçando treinamentos de resgate em espaços confinados, adotando dispositivos de localização pessoal (PLB) e criando protocolos de avaliação de risco antes de entrar em corredores estreitos.
Qual o impacto desse evento na legislação de segurança de cavernas nos EUA?
Embora ainda não haja leis federais específicas, autoridades estaduais estão considerando regulamentar a obrigatoriedade de planos de emergência e uso de equipamentos de comunicação em áreas de risco.
Comentários (1)
Ariadne Pereira Alves
Primeiramente, é fundamental lembrar que a preparação para exploração em cavernas como a Mammoth deve incluir treinamento específico para espaços confinados; utilizar cabos de permanência, luvas de agarre e dispositivos de localização pessoal (PLB) são medidas imprescindíveis, sobretudo ao enfrentar corredores de dimensões reduzidas; além disso, a prática de simular situações de emergência permite que a equipe reaja de forma coordenada, reduzindo tempos críticos de resposta; recomenda‑se ainda um protocolo de verificação dupla antes de entrar em trechos como o “Canal do Nascimento”, onde a margem de erro é mínima; a comunicação constante entre os membros, com sinais claros e backup de rádio, pode fazer a diferença entre a vida e a morte; não podemos subestimar a importância de um plano de evacuação pré‑definido, inclusive com ferramentas de extração ultracompactas que possam ser introduzidas em fendas estreitas; por fim, a conscientização sobre os efeitos fisiológicos da posição invertida – como diminuição do retorno venoso e risco de hipotermia – deve estar presente em todos os treinamentos de segurança.